segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Verde, preta, roxa... Transmontana !

Como todo transmontano que se respeita, sempre gostei de azeitonas. De azeitonas cortilhadas de preferência, mas também de alcaparras e do líquido verde-amarelo que sai das azeitonas, isto é do azeite.
Sim, o azeite prova-se, come-se, bebe-se e também acompanha os alimentos para realçar o gosto.
Só quem nunca comeu uma "côdea" de pão centeio com azeite, por vezes com açucar, é que não compreende o que eu estou a escrever.
O azeite é o fruto do encontro do sofrimento da oliveira e do sofrimento do homem.
Sofrimento da oliveira porque o calor é tanto no verão, a sede é enorme, qua a oliveira quase perde o verde e fica prateada. No inverno, ela sofre do frio, da neve e do gelo. Logo depois de oferecer o seus frutos ao homem, sofre o assalto deste, dos seus machados ou dos serrotes, como se a oferta não fosse sufíciente.
Mas talvez seja o modo do homem se vingar do seu próprio sofrimento, dos frios que apanha para ter o privilégio de provar o líquido da felicidade.
Porque o azeite dá saude, dá gosto aos alimentos, dá aquela cor inesquecível a umas simples batatas cozidas ou aquele aspecto guloso a uns grelos da horta. E nem sequer vos falo do papel indispensável do azeite nas alheiras.
E para aqueles que escorregarem sem querer até este blog, devo dizer que não há azeite, mas que há azeites.
O azeite tem vários graus de acidez, quanto mais baixo for, melhor é para a saúde. Mas o azeite é também semelhante ao lavrador, toma a seu carácter, por vezes bom, por vezes mau. É suave ou ácido, conforme o amor que o lavrador tem pelas suas oliveiras, pela sua terra, pela suas azeitonas.
Não é por acaso, que antigamente, o azeite tinha mais gosto. As oliveiras eram tratadas de outro modo, com mais amor e mais trabalho. E cada azeitona era apanhada pelas mulheres, por vezes com muito sacrifício. Rebuscavam-se as ervas, por vezes até as silvas, quanda a geada ainda estava bem forte.
Hoje, só já se apanha a que cai nas lonas, o resto fica para os pássaros. Mas tordos cada vez há menos e talvez um dia até já nem haja para ainda comerem a azeitona que os homens hes oferecem, agora de boa vontade.
Como podia o azeite não ser esse líquido que nos faz brilhar os olhos, como se fossemos crianças ?
Para quem não sabe, o azeite não é como o vinho, não se obtém só pelo facto de esmagar as azeitonas. A técnica é mais complicada e só a experiência é que permite fazer um bom azeite.
É também essa dificuldade técnica, que obriga a levar as azeitonas a um lagar de azeite, que faz que por vezes o lavrador é roubado pelos que fazem funcionar esses lagares.
Falei-lhes de alcaparras. As nossas, são simplemente azeitonas ainda verdes, esmagadas geralmente com uma pedra e ás quais se lhes tirou o caroço. Depois são metidas na água e.... Ah, queriam saber ? Isso agora é segredo.
Como também é segredo quais são as ervas que se metem na tanha onde se poêm a curar as azeitonas. Verdes, pretas, roxas, não tem importância. O que importa é que a água tem de ser da fonte ou de um poço, sem lixívia ou outros produtos de tratamento. E depois, juntam-se as ervas e mais umas coisas que conservam, que dão gosto e que são da nossa terra.
Esquecia-me de lhes dizer uma coisa. O azeite sempre foi considerado pelos antigos como um produto de alta qualidade. Por isso é que o azeite sempre serviu, e serve ainda hoje, para "alumiar" ao Santíssimo Sacramento.

Sem comentários:

Enviar um comentário