segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Figuras da terra... O Albino maluco !

Todos temos recordações da infância que nos seguem toda a nossa vida.
 As minhas são por vezes momentos de felicidade quando andava em liberdade pelos campos, descobrindo, sem saber, as maravilhas da natureza. Aliás, via mas nem sempre compreendia.
 São também os dias em que se iam lavar os cobertores no rio do ti Mario. Sim do ti Mario. Era assim que se falava das pessoas mais idosas. O ti "coiso" ou a tia "coisa". Do ti Mario, falarei-hes mais tarde.
 Mas as minhas recordações fazem também parte as pessoas que penso marcaram a minha vida de criança.  
 Uma delas, foi o Albino.
 Quem não conhecia o Albino ? Ele era certamente um dos homens mais conhecidos da região. Dizia-se que era maluco.
 Morava quase em frente da minha casa logo do outro lado do ribeiro.
 No inverno, quanda a geada era muito forte et que a água do ribeiro gelava, logo de madrugada, o Albino partia o gelo para se lavar. Tronco nu, se ele não tinha frio nenhum, tinhamos nós por conta dele. Só a olhar para ele.
 Que coragem tinha aquele homem para se lavar com aquele frio.
 O Albino era também o alvo das brincadeiras das mulheres sobretudo quando iam cozer o pão no forno de tia Carvalheiras. A tia Carvalheiras era a mãe dele.
 Acho que era viúva, nunca soube exactamente. A forno era o seu ganha pão. Cada pessoa que lá cozia o seu pão, que geralmente era centeio, devia pagar o aluguer do forno com pão.
Nessa altura o dinheiro era pouco e a vida estava organizada segundo métodos que permitiam a subsistência de toda a comunidade.
 Dizia o povo que a tia Carvalheiras era bruxa. Que se transformava en "parreca" (pata) e que se podia ver de noite no ribeiro.
 Os medos do povo eram tão grandes quando se desconhecia o ser intimo de cada um que tudo era pretexto para que a imaginação de alguns viesse a ser a verdade dos outros. Na realidade, a tia Carvalheiras era uma pobre mulher que tentava de sobreviver, ela e os seus filhos, nessa época em que a miséria era grande.
 Como  muitas vezes, quando se é pobre, as infelicidades acumulam-se, como se as desgraças se atraíssem e a tia Carvalheiras, assim como o Albino, eram vítimas desse estado de ser pobre.
 O Albino gostava de um copinho e de um "cidarrinho". Quando um forasteiro vinha até Vale de Telhas, o Albino ia logo ter com ele para lhe pedir um "cidarrinho". Quando obtinha satisfação, aproveitava e pedia logo o maço dos "cidarros". Tinha razão, porque quem não pede nada, nada lhe dão.
 Mas o Albino era também o homem que ajudava toda a gente nos trabalhos do campo. Trabalhava de graça, só pela malga de caldo.
 Era também ele que levava os burros ao ferrador que tinha a sua oficina numa aldeia vizinha.
 Era bom rapaz e sempre respeitou quem o respeitava.
 Nos dias de festa, era uma das figuras do baile, ele e a Cidade, uma rapariga solteira um pouco desorientada também.
 O Albino era engraçado e o seu pequeno defeito de pronúncia fazia que os seus "taralhos" e outras maluquices eram repetidas em muitas partes do mundo.
 Quando faleceu, portanto numa época de grandes trabalhos agrícolas, a gente era muita, vinda das aldeias em volta onde ele tinha muitos amigos.
 Sabes, Albino, diziam "te eras maluto" mas na minha ideia, "mais maluto era tem to chamava" !

Repousa em paz !

3 comentários:

  1. Muito bem homenageado este homem da terra,muito me lembro dele nos meus tempos de pequeno e que saudades me trás todas estas palavras, faz-me lembrar os momentos bons que passei a nesta aldeia de origem romana...há e o ti Mário moleiro era
    o meu avô ..um abraço para o autor deste blog que divulga vivências da sua terra e que a dá a conhecer aqui no maior meio de informação que existe bem hajam..

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  2. O ti Mario moleiro também esta previsto para um futuro post.
    E mais algumas figuras de Vale de Telhas, de que alguns ja não se lembram de certeza.
    Um pouco de paciência...

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